Projeto que regumenta o IVA foi sancionado nesta quinta-feira (16) pelo presidente Lula

Solução para muitos estados, IVA pode ser dor de cabeça para Mato Grosso do Sul
Pedestres no Centro de Campo Grande, caminhando sob sol forte (Foto: Marcos Maluf)

A reforma tributária é um dos temas mais discutidos no cenário econômico dos últimos anos. Nesta quinta-feira (16), o presidente Lula (PT) sancionou o primeiro dos dois projetos que regulamenta a reforma. A primeira regulamentação traz o regramento do novo Imposto sobre Valor Agregado (IVA). A proposta visa substituir cinco tributos que incidem sobre o consumo (IPI, ICMS, ISS, Pis e Cofns) por dois novos impostos: o Imposto sobre Bens e Serviços (IBS), de competência estadual e municipal, e a Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS), de competência federal.

A reforma tributária brasileira, sancionada recentemente, substitui cinco impostos sobre consumo por dois novos (IBS e CBS), buscando simplificar o sistema e aumentar a transparência. Embora projeções indiquem aumento do PIB, estados como Mato Grosso do Sul enfrentam desafios específicos, como a necessidade de alíquota de IBS acima da média nacional para manter a arrecadação, devido à sua dependência de setores exportadores e à migração de receita para estados consumidores com a tributação no destino. A extinção de incentivos fiscais e a falta de clareza sobre fundos de compensação também geram preocupações sobre o impacto fiscal no estado.

O principal objetivo da reforma é simplificar o sistema tributário, aumentar a transparência e reduzir as distorções que afetam a competitividade da economia brasileira. Entretanto, a implementação do IVA traz desafios específicos, sobretudo em estados como Mato Grosso do Sul, cuja economia tem características peculiares.  A dimensão exata do imposto, porém, será conhecido ao fim da implementação da reforma tributária, que será feita em etapas entre os anos de 2026 e 2033

Atualmente, o Brasil possui um sistema tributário complexo e fragmentado. Os impostos sobre o consumo são aplicados em diferentes esferas de governo, com regras que variam entre estados e municípios. Por exemplo, o ICMS, imposto estadual, possui alíquotas diferenciadas que variam conforme o produto e o estado de origem ou destino da mercadoria. Já o ISS, imposto municipal, incide sobre uma ampla gama de serviços, com alíquotas que também mudam de cidade para cidade.

O ICMS em Mato Grosso do Sul possui uma alíquota padrão de 17% para a maioria das mercadorias e serviços dentro do estado, com exceções como produtos da cesta básica (12%) e itens como combustíveis e energia elétrica acima de 50 kWh (25%). Para operações interestaduais, as alíquotas variam de 4% a 12%, dependendo da origem e destino das mercadorias.

Essa fragmentação cria dificuldades operacionais para as empresas, que precisam atender a diferentes legislações e preencher diversas obrigações acessórias. Além disso, a cumulatividade de impostos em alguns casos aumenta os custos para o consumidor final.

Segue uma tabela comparativa entre o novo Imposto sobre Valor Agregado (IVA) e o modelo atual vigente no Brasil:

Essa tabela destaca as principais diferenças entre o novo IVA, proposto como parte da reforma tributária, e o sistema vigente, que apresenta diversos desafios, como complexidade e ineficiência.

Solução para muitos estados, IVA pode ser dor de cabeça para Mato Grosso do Sul

O IVA na reforma tributária – O modelo de IVA proposto pela reforma busca unificar e simplificar a cobrança de impostos. Ele segue a lógica de tributação sobre o valor adicionado em cada etapa da cadeia produtiva, permitindo que empresas compensem os tributos pagos anteriormente.

Segundo estudo do Núcleo de Estudos em Modelagem Econômica e Ambiental Aplicada (NEMEA), a reforma pode gerar um aumento de 3,4 pontos percentuais no PIB de longo prazo, equivalente a R$ 370 bilhões, mesmo com as modificações realizadas na proposta original da PEC 45/2019. O estudo aponta ainda que a introdução do sistema de cashback é uma medida progressiva que pode beneficiar as famílias de baixa renda, devolvendo parte dos impostos pagos em produtos essenciais.

Por outro lado, a inclusão de alíquotas reduzidas e produtos com isenção total, como carnes, reduz os ganhos gerais da reforma. Essa medida beneficia setores específicos, como a agropecuária, mas eleva a alíquota geral do IVA, reduzindo o impacto positivo no consumo das famílias.

Solução para muitos estados, IVA pode ser dor de cabeça para Mato Grosso do Sul
Maquinário trabalhando em plantação de cana-de-açúcar em MS (Foto: Divulgação/Embrapa)

Impactos em Mato Grosso do Sul – Mato Grosso do Sul enfrenta desafios específicos diante da implementação do IVA. Um estudo intitulado “Reforma Tributária: Pontos de Atenção para o Estado de Mato Grosso do Sul”, elaborado pela Secretaria de Fazenda do Mato Grosso do Sul (SEFAZ/MS), destaca os desafios e impactos projetados para o estado com o IBS. O relatório aponta que Mato Grosso do Sul, para manter o nível de arrecadação atual, precisará estabelecer uma alíquota de IBS de 17,71%, consideravelmente acima da média nacional estimada em 13%.

O estudo ressalta que essa alíquota elevada reflete a dependência econômica do estado de setores voltados para exportação, como o gás natural e o agronegócio. Com a reforma tributária adotando o princípio de tributação no destino, grande parte da arrecadação migra para os estados consumidores, deixando MS em desvantagem. Além disso, a extinção de incentivos fiscais, como os atualmente aplicados ao setor produtivo, representa um risco significativo para a manutenção de atividades econômicas no estado.

Outro ponto crítico levantado é a falta de definições claras sobre os fundos de compensação e desenvolvimento regional, fundamentais para mitigar perdas de arrecadação. Sem mecanismos bem definidos, o estudo estima que o estado poderia enfrentar uma nova dívida significativa, agravando sua situação fiscal.

Para enfrentar os impactos da reforma, o governo estadual criou até um Grupo de Trabalho para monitorar e propor soluções. Entre as medidas discutidas está a revisão dos critérios de distribuição do Fundo Nacional de Desenvolvimento Regional (FNDR), que atualmente destina ao estado apenas R$ 750 milhões, valor considerado insuficiente pelo governador Eduardo Riedel (PSDB).

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