Pacientes enfrentam prateleiras vazias, receitas não atendidas e desamparo nas unidades básicas. Secretaria reconhece atrasos, mas soluções ainda não vieram. Superintendente federal apontou má gestão dos recursos

A saúde pública de Campo Grande (MS) amarga uma crise que escancara o abismo entre o discurso político e a realidade da população. Sob a gestão da prefeita reeleita Adriane Lopes (PP), que afirmou em campanha que “o tempo de espera é melhor que o particular”, a rede municipal enfrenta a falta generalizada de medicamentos, afetando desde pacientes crônicos até crianças com febre à espera de gotas de ibuprofeno.

Insulina em caneta, paracetamol, antibióticos, anti-hipertensivos, antidepressivos e até sais de reidratação oral estão em falta em diversas unidades de saúde da capital. A lista de medicamentos indisponíveis é longa.

A secretária Rosana Leite de Melo e a prefeita de Campo Grande Adriane Lopes. Foto: Marcelo Victor (Correio do Estado)A secretária de Saúde, Rosana Leite de Melo, e a prefeita Adriane Lopes. Foto: Marcelo Victor/Correio do Estado

Procurada, a secretária municipal de Saúde, Rosana Leite de Melo, admitiu os atrasos: “Vou pedir pra coordenadora colocar o estoque (caso tenha); previsão de entrega (na sexta vi que há atrasos) e data do pregão agendada. À tarde te mandarei”, respondeu à reportagem do MS Notícias.

Até o fechamento desta matéria, as informações prometidas não foram enviadas.

PROPAGANDA VERSUS REALIDADE

No debate eleitoral de 2024, promovido pelo Midiamax, Adriane Lopes prometeu a meçlhor gestão de saúde da história da Capital:“Eu estou propondo o caminho da solução: pronto atendimento pediátrico. Porque há 20 anos as mães de Campo Grande clamam por pediatria e atendimento de qualidade. Hoje, lá no PAI, você chega, mãezinha de Campo Grande, com a sua criança, é 24 horas, 16 pediatras atendendo, fisioterapeutas, enfermeiros e enfermeiras pediátricas. E o tempo de espera é de 15 a 20 minutos. É melhor que o particular”, declarou a então candidata.  

A fala contrasta com o cotidiano de mães que percorrem farmácias públicas atrás de medicamentos básicos, sem sucesso. A promessa de um atendimento “melhor que o particular” soa distante da realidade de quem sequer encontra um comprimido de metildopa ou uma ampola de diclofenaco. Eis o vídeo: 

GOVERNO FEDERAL LAMENTA MÁ GESTÃO ADRIANISTA

Em 2023, a situação chegou ao ponto de receber um alerta vindo de Brasília. O superintendente federal de Saúde em Mato Grosso do Sul, Ronaldo de Souza Costa, foi direto: “São mais de R$ 3 milhões por dia que o Ministério da Saúde injeta para a saúde de Campo Grande. Eu não acho pouco recurso. Acho que o recurso tem que ser melhor aproveitado aqui na nossa cidade. Então essa é a minha apresentação. Venho aqui me colocar à disposição dos vereadores, trazer à população de Campo Grande…”. 

A crítica é clara: o problema não está na falta de verbas, mas na gestão delas. A declaração lança luz sobre o uso ineficiente de um volume expressivo de dinheiro público que, mesmo com repasses federais diários milionários, não tem se traduzido em assistência básica à população. Eis o vídeo: 

SAÚDE MENTAL EM ALERTA

Até mesmo os medicamentos controlados — como fluoxetina, carbamazepina, diazepam e lítio — distribuídos no CEM (Centro Especializado Municipal) estão em falta. Pacientes em tratamento psiquiátrico relatam interrupções e incertezas sobre continuidade do cuidado.

Profissionais da saúde denunciam que faltam farmacêuticos em várias unidades, o que compromete a dispensação até mesmo dos poucos remédios disponíveis.

REFERÊNCIA EM INEFICIÊNCIA

Durante a campanha, Adriane Lopes prometeu tornar Campo Grande referência em saúde pública, com informatização, ampliação do atendimento e valorização dos profissionais. No entanto, o que se vê hoje é uma gestão que não garante nem o básico: medicamento na mão de quem precisa.

Enquanto a prefeita investe em discursos e vídeos institucionais, a população enfrenta a dura realidade de filas, desamparo e uma farmácia pública vazia. A saúde virou peça de marketing. E Campo Grande, seu palanque.