Falta de educação financeira e pressões sociais contribuem para o endividamento precoce da geração Z
A desorganização financeira fez com que mais de 135,9 mil jovens da geração Z entrassem para a lista de inadimplentes em 2025. O psicólogo Henrique Henkin explica que o endividamento precoce pode estar relacionado a fatores sociais e pessoais que influenciam o comportamento de consumo desse público.
Em Mato Grosso do Sul, a inadimplência entre jovens da geração Z atingiu 135,9 mil pessoas em 2025. O número representa um aumento em relação a 2020, quando 107,7 mil jovens estavam endividados. Especialistas apontam a desorganização financeira como principal causa, agravada pela falta de educação financeira familiar e pela influência das redes sociais. Fatores como a busca por qualidade de vida, a comparação social e a pressão do marketing contribuem para o consumo desenfreado e o endividamento precoce. O fácil acesso ao crédito, como no caso de cartões, também potencializa o problema. Psicólogos alertam para a necessidade de autoconhecimento e compreensão da própria realidade financeira para evitar o ciclo de dívidas.
O mapa da inadimplência do Serasa revela que, em 2020, os jovens até 25 anos correspondiam a 13,2% dos inadimplentes em Mato Grosso do Sul. Na época, eram 107,7 mil jovens entre os 816.191 endividados no Estado.
De lá para cá, a porcentagem apresentou pequenas variações. Em abril deste ano, a taxa caiu para 11,6%, mas, em números absolutos, a quantidade de jovens inadimplentes da geração Z saltou para 135,9 mil, em um universo de mais de 1,1 milhão de endividados.
Essa é a realidade vivida por Rafaela da Silva, de 24 anos, há pelo menos um ano. A estudante conta que a “bola de neve” começou a se formar após conseguir limite no primeiro cartão de crédito.
“O primeiro limite era pequeno, cerca de R$ 700. Na época, meu salário também era baixo, então eu precisava ter mais controle. Conforme fui comprando, o limite aumentou e foi quando tudo começou a desandar”, relata.
Com o aumento do limite, Rafaela passou a gastar mais e, quando percebeu, já estava comprometendo 90% da renda com a fatura do cartão. “Hoje uso meu salário para pagar o cartão de crédito, para conseguir quitar as contas do mês, e assim vem acontecendo todo mês.”
A jovem conta ainda que sua primeira dívida foi contraída neste ano, após um imprevisto familiar. Atualmente, as contas já somam aproximadamente R$ 4 mil e ela não tem previsão de quando conseguirá quitá-las. Em meio a isto, ela ainda tenta não atrasar as parcelas de um empréstimo realizado em 2024.
“O cartão do mercado e o crediário de uma loja estavam no meu nome. Após minha mãe precisar se afastar do trabalho e ficar sem salário, eu tive que assumir essas contas. Mas, com o meu salário, a fatura do cartão e outras despesas pelas quais sou responsável, essas contas acabaram ficando atrasadas”, explica.
Rafaela afirma que já tentou realizar um controle financeiro antes de adquirir as dívidas, mas acabou “derrapando” no meio do caminho. Atualmente, planeja quitar as contas e investir em um planejamento financeiro.
Despreparo – Levantamento realizado pelo Instituto Opinion Box, encomendado pelo Serasa, revela que apenas um em cada dez jovens teve contato significativo com educação financeira dentro da família.
O psicólogo Henrique Henkin relaciona esse dado com o foco das gerações anteriores. “[Os pais] tiveram mais cuidado e estabilidade para dar uma segurança maior aos filhos, buscando ensinar o valor dos estudos, de estar bem, mas acabaram esquecendo de ensinar elementos importantes sobre a manutenção dos aspectos materiais da vida”, pontua.
Henrique detalha que o perfil da geração Z busca qualidade de vida e felicidade como ideais principais. Apesar de parecerem bons objetivos, podem estar ligados “à negação da necessidade de se comprometer com aspectos concretos da sociedade, pensando mais em ideais subjetivos e não objetivos”.
Os jovens dessa geração também enfrentam os impactos do marketing e das redes sociais, e a constante comparação com outras pessoas tem contribuído para a contração de novas dívidas.
“Sobre a comparação com outras pessoas, há um pensamento de que só serei bem-sucedido se gastar, tiver os melhores produtos, as viagens, as vivências. Então, não é apenas um aspecto geracional, mas um impacto social”, enfatiza.
Nas salas das clínicas, o diagnóstico específico é difícil de ser realizado. O psicólogo explica que o principal objetivo do processo terapêutico é fazer com que o paciente compreenda sua realidade.
“Os principais sinais para observar nos jovens são a falta de compreensão da própria realidade, a compensação das frustrações em gastos e o desejo constante de ter e ser como outras pessoas, sem compreender a sua identidade”, alerta o profissional.
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