O ativista Thiago Ávila, sequestrado pela força de guerra israelense na noite de 8 de junho, quando estava a bordo do navio Madleen, da Flotilla pela Liberdade, estaria à caminho do aeroporto anunciou sua esposa Lara Souza, após visita à Esplanada dos Ministérios, em Brasília, junto com parlamentares cobrar providências da Secretaria-Geral do Ministério das Relações Exteriores. 

Lara fez o comunicado por meio de um vídeo ao lado de duas deputadas e um deputado na Capital Federal. “Nós acabamos de sair de uma reunião com o Itamaraty, tendo a informação de que o Thiago chegou ao aeroporto, que a embaixada brasileira está esperando ele lá, vai tentar participar do interrogatório e ele vai ser interrogado agora e nós não temos mais notícias do que acontecerá depois”, disse Lara, visivelmente apreensiva nesta 2ª feira (9.jun.25). 

Ativistas em missão da Coalização Flotilha pela Liberdade foram raptados por Israel. Foto: ReproduçãoAtivistas em missão da Coalização Flotilha pela Liberdade foram raptados por Israel. Foto: Reprodução

O local exato para onde Thiago foi levado seria “o Aeroporto Ben Gurion, em Tel Aviv”.

Conforme já apontamos aqui, Israel tem cometido vários crimes de guerra e esse é mais um deles, tendo abordado o navio nos limites das  águas internacionais e forçando a todos a bordo a desligarem seus celulares.

O navio Madleen, que navegou em direção a Gaza para desafiar o bloqueio israelense em curso, se aproxima de Gaza sob ameaças de Israel e rastreamento mundial [Salvatore Allegra/AgÊncia Anadolu] ]O navio Madleen, que navegou em direção a Gaza para desafiar o bloqueio israelense em curso, se aproxima de Gaza sob ameaças de Israel e rastreamento mundial. Foto: Salvatore Allegra/Agência Anadolu

Segundo apurado, o Madleen estava a poucas horas de Gaza, mas fora de qualquer jurisdição marítima israelense. “A Coalizão da Flotilha da Liberdade (FFC) confirma que seu navio civil, Madleen, que transportava ajuda humanitária para Gaza, foi atacado/interceptado à força pelo exército israelense às 3h02 CET em águas internacionais a 31.95236° N, 32.38880° E. O navio foi abordado ilegalmente, sua tripulação civil desarmada foi sequestrada e sua carga vital — incluindo leite em pó para bebês, alimentos e suprimentos médicos — foi confiscada”, apontou a organização humanitária em nota.  

Além do jornalista brasileiro Thiago Ávila, estavam na embarcação a ativista ambiental Greta Thunberg e da eurodeputada Rima Hassan que durante os dias de navegação denunciaram  as ameaças endereçadas ao navio e reafirmaram a determinação de chegar a Gaza levando alimentos, remédios e apoio à população de Gaza.

O navio funcionou como uma ‘isca’ para escancarar a forma criminosa como Israel está agindo, promovendo genocídio contra os palestinos. Até o momento, o país sob o comando Benjamin Netanyahu, já matou 54 mil pessoas apenas em Gaza, local onde deflagrou uma guerra em outubro de 2023, destruindo escolas, hospitais, matando ativistas e impedindo a chegada de ajuda humanitária aos deslocados e feridos pela guerra.  

A deputada federal Natália Bonavides (PT-RN), que acompanhava Lara, também se manifestou sobre o caso. “É muito importante que a gente mantenha a mobilização muito ativa, porque o que acontece agora é que após essa detenção ilegal, ele vai passar para o interrogatório, né? A gente tá fazendo aqui esse diálogo com Itamaraty para que, assim que imediatamente que possível, ele esteja de volta, mas é muito importante, especialmente agora em que ele passa por o interrogatório e em seguida ainda vamos saber o que acontecerá, que todo mundo fique muito ativo e acompanhando esse tema que é tão grave”.

Também presente no ato, o deputado distrital Fábio Felix (PSOL) destacou o papel do Itamaraty. “A demanda foi para o Itamaraty, inclusive, acompanhar o interrogatório, então eles tão demandando isso ao governo de Israel e a gente tá aguardando informações. O mais importante da mobilização é para que o Thiago volte seguro para casa o quanto antes e a vinda hoje aqui foi para reforçar isso com o governo brasileiro e a equipe da embaixada já está no aeroporto acompanhando todo esse processo”, afirmou o parlamentar.

A deputada federal Erika Kokay (PT-DF), que também esteve na reunião com o Ministério das Relações Exteriores, criticou a atuação do governo israelense. “Nós viemos aqui conversar com a ministra em exercício para mostrar primeiro a nossa preocupação com o absurdo dentro de tantos absurdos que têm acontecido, de tanta crueldade que tem acontecido a partir do Estado de Israel, você ter tido esta apreensão de pessoas, esse sequestro de pessoas”, lamentou. 

Erika apontou ainda que a reunião foi positiva. “Nós saímos com a segurança de que o Itamaraty está acompanhando, mas outras entidades de defesa dos direitos humanos também estão acompanhando as pessoas que no ato pacífico queriam furar o bloqueio que impõe a fome e impõe a crueldade ao povo de Gaza.

E como foi dito, o Thiago está agora no aeroporto, vai estar enfrentando o interrogatório, a representação do Itamaraty lá está acompanhando e é preciso manter a mobilização. É Palestina livre, é Thiago livre, é a liberdade para um povo palestino e para todas as pessoas que estão se solidarizando. E Thiago é uma destas pessoas, liberdade para a Flotilha, que aliás é a Flotilha da Liberdade”, declarou Kokay. Veja o vídeo: 

FLOTILHA DA LIBERDADE: QUEM SÃO OS 12 ATIVISTAS SEQUESTRADOS POR ISRAEL 

Até o momento, o governo israelense não se pronunciou oficialmente sobre os procedimentos aplicados à tripulação detida.

A missão da Flotilha da Liberdade é organizada por coalizões internacionais de defesa dos direitos humanos e da causa palestina, e já realizou outras tentativas simbólicas de romper o bloqueio a Gaza nos últimos anos.

Organizações internacionais como a Anistia Internacional e a ONU já se manifestaram anteriormente contra o bloqueio à Faixa de Gaza, apontando impactos humanitários graves à população civil local.

Eis a lista e minibiografia dos ativistas sequestrados pela máquina de guerra israelense: 

 

Greta Thunberg

Gerta foi raptada pela máquina de guerra israelense.  Ativista ambiental Greta Thumberg foi raptada pela máquina de guerra israelense. Foto: Chris Kebbon

A sueca Greta Thunberg, de 22 anos, tornou-se símbolo da luta climática mundial em 2018, ao liderar greves estudantis pelo clima. Fundadora do movimento “Sextas-Feiras pelo Futuro”, mobilizou milhões de jovens, sobretudo na Europa. Desde então, participou de atos de desobediência civil e apoia publicamente a causa palestina.

Thiago Ávila

Thiago Ávila e a tripulação da Flotilha da Liberdade rumo à Gaza. Thiago Ávila (o quarto da esquerda para direita) abraçado a Greta Thunberg (terceira da esquerda para a direita) com parte da tripulação do navio Madleen, pouco antes da partida da Sicília. Foto: Getty Images

Brasiliense, 38 anos, Thiago Ávila é membro do comitê diretor da Freedom Flotilla Coalition (FFC). Casado e pai de uma menina de um ano, já participou de outras missões humanitárias. No mês passado, estava em um barco rumo a Gaza atingido por drones na costa de Malta. Em 2022, concorreu a deputado federal. Nas redes sociais, onde soma mais de 750 mil seguidores, trata de geopolítica e defende o fim do bloqueio a Gaza.

Rima Hassan

Primeira franco-palestina eleita para o Parlamento Europeu, Rima Hassan tem 33 anos, é jurista e ativista dos direitos humanos. Membro do partido França Insubmissa, ela denuncia publicamente o que chama de “genocídio” em Gaza. Neta de refugiados palestinos, nasceu apátrida na Síria e se formou em Direito pela Universidade Sorbonne, em Paris, com foco em direito internacional e apartheid.

Yasemin Acar

Alemã de 37 anos, Yasemin Acar é filha de imigrantes curdos da Turquia. Milita desde a adolescência pelos direitos de refugiados e contra a islamofobia. Em Berlim, é uma das principais vozes nos atos pró-Palestina.

Yanis Mhamdi

Jornalista francês do veículo independente Blast, Mhamdi é conhecido por seu trabalho em vídeo. Dirigiu o documentário Netanyahu: Retrato de um criminoso de guerra, exibido em 2024. Seu novo projeto, Alice na terra dos colonos, foi filmado na Cisjordânia.

Omar Faiad

Francês e correspondente da emissora al-Jazeera Mubasher, Faiad cobria a missão humanitária diretamente da embarcação no momento da interceptação.

Baptiste Andre

Médico francês e voluntário da FFC, Andre acompanhava a flotilha para prestar assistência médica em caso de confronto com as forças israelenses.

Pascal Maurieras

Marinheiro francês filiado à central sindical CGT, Maurieras tem histórico de participação em ações humanitárias, segundo a FFC.

Reva Viard

Ativista ambiental francês, Reva Viard é conhecido por protestos radicais. Passou 39 dias em uma árvore para impedir seu corte e se opõe à construção de uma rodovia no sul da França por razões ambientais.

Suayb Ordu

Turco de 31 anos, Suayb Ordu é teólogo e atua como freelancer na Alemanha. Sua participação remete à trágica flotilha de 2010, quando dez ativistas — incluindo oito turcos — foram mortos por Israel durante ação semelhante.

Sergio Toribio

Engenheiro espanhol, Toribio já atuou em ONGs como Sea Watch e SOS Humanidade no resgate de migrantes no Mediterrâneo. Foi condenado em 2021 por protestar contra a caça de baleias nas Ilhas Faroé.

Mark van Rennes

Cidadão holandês de 26 anos, é voluntário da Freedom Flotilla Coalition.

Liam Cunningham

Ator irlandês que atuou na série “Game of Thrones”. Tem 54 anos e três filhos. Seu personagem mais conhecido é Davos Seaworth na série.