Uma investigação da Polícia Federal (PF) revelou um esquema de lavagem de dinheiro atribuído à máfia chinesa em São Paulo, envolvendo pequenas lojas usadas como fachada para movimentações milionárias. De acordo com uma apuração do jornal Metrópoles, entre 2021 e 2022, uma loja de roupas localizada na Galeria Pagé, no Brás, movimentou R$ 144 milhões, sem declarar ganhos de capital, estoques ou pagamentos a sócios.

A empresa, chamada Ouro Preto Roupas e Acessórios, pertence ao chinês Lingbin Xia e recebeu R$ 250 mil de contas suspeitas ligadas a golpes virtuais. Durante a investigação, a PF não encontrou registro de funcionamento do estabelecimento dentro da galeria, tampouco notas fiscais ou pagamentos feitos via cartão de crédito.

A loja faz parte de um esquema mais amplo que envolve pelo menos 11 empresas usadas para lavar dinheiro, segundo as autoridades. O esquema inclui crimes como estelionato, falsificação de produtos e até comércio ilegal de armas. A JKL Comércio de Roupas, que teve Lingbin Xia como sócio e atualmente está em nome da também chinesa Weiwei Du, foi uma das empresas que recebeu valores suspeitos, totalizando R$ 150 mil. Além disso, entre janeiro de 2022 e junho de 2023, a Ouro Preto transferiu R$ 5,1 milhões para a JKL, conforme apontam os documentos da investigação.

LARANJAS

Ainda segundo a apuração do Metrópoles, a investigação identificou uma rede de “laranjas” recrutados na região do Brás, especialmente nas ruas Oriente e Barão de Ladário, para servirem como correntistas de contas bancárias envolvidas no esquema.

Durante a apuração, a PF encontrou centenas de comprovantes de transações enviadas pelo WeChat, aplicativo de mensagens popular entre chineses, que indicavam como a organização criminosa mantinha o controle dos valores movimentados.

Uma das fraudes descobertas envolvia um banco paralelo, onde a maior parte do dinheiro das transações suspeitas era destinada a apenas seis empresas, algumas delas pertencentes a cidadãos chineses.

DENÚNCIA

A investigação teve início após uma denúncia da empresa de pagamentos Stone, que detectou movimentações atípicas em contas cadastradas na plataforma. Segundo a apuração, uma dessas contas realizou 1.336 operações em apenas dois dias, movimentando R$ 284 mil, enquanto outro correntista, com endereço na periferia da cidade, movimentou R$ 1,8 milhão.

A Stone exige que os correntistas enviem selfies para confirmar suas identidades no cadastro, o que levou os investigadores a identificarem a presença de chineses nas imagens e a aprofundarem a linha investigativa sobre a possível atuação da máfia chinesa.

“A análise dos quadros societários revelou que algumas delas [empresas] são ou foram administradas por chineses, fato que possibilitou traçar uma linha investigativa, tendo em vista que chineses também aparecem nas fotografias das faces (‘selfies’) enviadas por alguns dos correntistas à Stone no momento de abertura da conta”, aponta a investigação.

GOLPES

Além da lavagem de dinheiro, a organização criminosa também teria envolvimento com golpes virtuais. Vítimas relataram que foram enganadas por promessas de lucros fáceis em supostos trabalhos que consistiam em curtir páginas de redes sociais. Para continuar na plataforma, os participantes eram induzidos a fazer depósitos para liberar valores maiores. Um dos prejudicados chegou a perder R$ 48 mil nesse tipo de fraude.

A investigação da PF continua em andamento para identificar todos os envolvidos e desarticular a organização criminosa.