A audiência pública da Comissão de Infraestrutura do Senado, nesta 3ª feira (27.mai.25), revelou mais que divergências políticas: escancarou o incômodo de certos parlamentares diante de uma mulher que se recusa a abaixar a cabeça.

A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, foi silenciada, interrompida, desrespeitada e ridicularizada por senadores que, a julgar pelas atitudes, ainda não assimilaram que mulheres ocupam espaços de poder — e não precisam pedir licença para isso.

Presidindo a sessão, o senador Marcos Rogério (PL-RO) não se limitou a cortar o microfone de Marina inúmeras vezes.

Ironizou suas falas, debochou de suas queixas e, diante da insistência da ministra em exercer seu direito à palavra, lançou a frase que resume o teor da sessão: “Se ponha no seu lugar”.

Como se dissesse: “Seja submissa, silenciosa, agradecida”. Como se Marina, ministra de Estado, precisasse de autorização para existir.

Ela respondeu com firmeza: “O senhor quer que eu seja uma mulher submissa. E eu não sou”.

A frase, dita com a dignidade de quem construiu a própria trajetória à força de estudo, coerência e resiliência, soou como afronta a um modelo de poder ainda pautado na dominação e na imposição de autoridade por gênero.

Mas o ataque não veio só de Marcos Rogério.

O senador Plínio Valério (PSDB-AM), num momento que não se pode chamar de nada além de agressão moral, declarou que “a mulher merece respeito, a ministra não”.

Uma tentativa perversa de deslegitimar Marina Silva não por argumentos, mas por quem ela é.

Minutos antes, Marina havia relembrado outro ataque do mesmo parlamentar: o episódio em que ele, zombando, afirmou que passar seis horas com a ministra “dava vontade de enforcá-la”.

Ela respondeu: “Com a vida dos outros não se brinca. Só os psicopatas são capazes de fazer isso”. Assista: 

A ministra não foi ouvida. Foi alvejada.

Foi colocada em julgamento não por seus dados, nem por seus planos, mas por sua presença.

O clima da audiência deixou claro: ali não se discutia meio ambiente. Discutia-se poder.

E o incômodo com o fato de esse poder estar nas mãos — e na voz — de uma mulher.

A cena em que Marina Silva se levanta e abandona a sessão é simbólica.

É o abandono não do debate, mas de um espaço onde o debate foi substituído pela humilhação.

É a recusa em compactuar com o desrespeito travestido de formalidade.

Ao final, Marcos Rogério ameaçou convocar a ministra para depor obrigatoriamente.

Não ficou claro se o objetivo é buscar esclarecimentos ou apenas reafirmar sua autoridade sobre aquela que ousou não se calar.

O episódio reforça um problema estrutural no Congresso: a misoginia institucionalizada, muitas vezes escamoteada sob o manto da “disciplina regimental”.

Marina Silva não precisa se pôr em lugar algum.

Já está onde deveria: num cargo público conquistado democraticamente, exercendo seu papel com a coragem que falta a muitos que a interromperam.

O lugar que precisa ser repensado, afinal, não é o dela. É o de quem ainda acredita que mulheres devem ocupar a política apenas como figurantes obedientes