A federação que vai juntar o PP e o Podemos promoverá sensíveis mudanças na engrenagem da vida pública de Mato Grosso do Sul, afetando o universo de influências e desafios políticos e pessoais de algumas peças importantes. A senadora Tereza Cristina, autorizada pelo presidente nacional do PP, Ciro Nogueira, conduz no Estado os entendimentos com o União Brasil, da ex-deputada e ex-vice-governadora Rose Modesto.

Se, de um lado, esse processo vai trazer benefícios para a maioria das lideranças e filiados, de outro, a solução é recebida sem entusiasmo pela personagem que será a mais afetada no círculo de poder dos dois partidos: a prefeita de Campo Grande, Adriane Lopes. Só o simples fato de a direção nacional delegar exclusividade a Tereza Cristina para conduzir o arranjo regional já indica que Adriane não é tão forte como desejaria ou pensava que fosse.

Além de ficar em segundo plano nas decisões locais submetidas à direção nacional do PP, a prefeita também se incomoda com a presença de Rose no mesmo espaço partidário e político. O incômodo é natural, tendo em vista a conjuntura que ambas vivem no momento. Se fizer uma análise desapaixonada do momento que atravessa, a própria Adriane concluirá que a federação poderá aprofundar o esvaziamento de seu protagonismo.

Dois pilares centrais sugerem essa reflexão. Um é o quadro caótico dos serviços públicos na cidade, atribuído à incapacidade ou ausência de gestão, situação agravada pelas denúncias de corrupção eleitoral que põem seu mandato na corda bamba. Outro pilar é o “fator Rose”, a quem derrotou na guerra sucessória. A líder e dirigente do União Brasil saiu da disputa política e eleitoralmente revitalizada. Mesmo perdendo no segundo turno, os votos e as adesões politicamente fortes que a apoiaram abriram novo e promissor espaço para conservar e melhorar seus futuros voos eleitorais.

LIDERANÇA OFUSCADA

Enquanto luta desesperadamente para escapar da cassação – meta que já não depende de si, mas da Justiça Eleitoral –, a prefeita pode estar sentindo que corre o risco de ter sua liderança ainda mais ofuscada. Sua influência política e administrativa já não tem o peso necessário. E até sua autonomia – enfraquecida pelas ingerências do marido, deputado estadual Lídio Lopes, e de eminências pardas que sangram a gestão – vem esvaindo gradualmente.

Se o grande sonho do casal era pavimentar a estrada rumo a novos e grandes projetos eleitorais em 2026, os planos precisarão ser revistos. Se houver tempo e condição para tal, porque até nas suas bases de sustentação cresce a quantidade e a qualidade de insatisfeitos.

Assim, a falência do poder adrianista sobre uma cidade com quase um milhão de habitantes e os méritos políticos e pessoais da adversária dão a Rose Modesto a melhor e mais vitaminada posição no renovado mosaico político que começa a ser formado em Campo Grande.