O estado de Mato Grosso do Sul tem apresentado um grande crescimento econômico, populacional e empregatício. No entanto, algumas as cidades não têm se preparado adequadamente para atender aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030, um plano global de ações estabelecido pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2015.
A Agenda 2030 reúne 17 objetivos de desenvolvimento sustentável e 169 metas, firmados pelos 193 países que compõem a ONU, incluindo o Brasil. Esses objetivos abrangem as três dimensões do desenvolvimento sustentável: social, ambiental e econômica, que devem ser implementadas por governos, sociedade civil, setor privado e cidadãos.
Nos últimos 20 anos, Mato Grosso do Sul tem atraído grandes investimentos de multinacionais, como a fábrica de fertilizantes em Três Lagoas, a de papel celulose da Suzano em Ribas do Rio Pardo e a da Arauco em Inocência. No entanto, com a rápida expansão populacional, as pequenas e pacatas cidades do interior não conseguem acompanhar o crescimento acelerado, resultando no surgimento de problemas em igual velocidade.
O pesquisador e consultor em gestão pública Sandro Omar de Oliveira alerta há algum tempo sobre os desafios que os municípios de Mato Grosso do Sul podem enfrentar diante de um crescimento sem planejamento, o que pode levar a um colapso no setor público.
“Hoje, o conceito moderno de desenvolvimento sustentável pressupõe equilíbrio entre crescimento econômico, preservação ambiental e bem-estar social. Durante o boom das obras em Três Lagoas, envolvendo o complexo de celulose e a fábrica de fertilizantes, a cidade chegou a receber mais de 30 mil trabalhadores circulando, além dos moradores fixos. Isso gerou falta de moradia e assistência médica. As cidades não estão preparadas para absorver esse fluxo intenso de pessoas”, explica o especialista.
Ele destaca ainda a necessidade de um planejamento detalhado para garantir a infraestrutura adequada antes da chegada dessas indústrias. “Precisamos fazer uma análise minuciosa das necessidades dos equipamentos públicos, para entender até que ponto é possível absorver esse volume de pessoas. Esse planejamento deve ser feito em conjunto pelo poder público e pelas empresas, antes das instalações das indústrias, e não depois que já estão operando”, acrescenta Sandro Omar.
Problemas no interior refletem na Capital
Os desafios enfrentados pelas cidades do interior também estão impactando Campo Grande. O crescimento populacional tem levado ao fenômeno da “migração pendular”, no qual trabalhadores residem em uma cidade e se deslocam diariamente para outra, gerando problemas de moradia e transporte. Além disso, os municípios recebem um grande número de trabalhadores temporários, que permanecem por um período determinado e depois deixam a cidade, levando consigo investimentos e suporte econômico.
“As empresas podem contribuir para minimizar esses impactos ao investir parte de sua receita em ações sociais no município, conforme prevê a legislação tributária. Entretanto, muitas grandes corporações se instalam no estado, mas acabam direcionando esses investimentos sociais para outras regiões”, aponta o especialista em gestão.
Essa falta de planejamento também dificulta o cumprimento de um dos objetivos mais importantes da Agenda 2030: a ação contra a mudança global do clima. Construções desordenadas e sem planejamento contribuem para alterações climáticas abruptas e desastres naturais. Um exemplo recente ocorreu em Campo Grande, onde vários bairros registraram enxurradas e deslizamentos após fortes chuvas.
“A Constituição estabelece que toda forma de desenvolvimento econômico deve ser sustentável. No entanto, essa sustentabilidade ainda não está sendo plenamente respeitada. É preciso garantir que o crescimento ocorra de maneira equilibrada e planejada”, conclui Sandro Omar.