A 19 meses das eleições, já é conflituoso e sem quartel o embate de bastidores envolvendo partidos, lideranças políticas, empresas do segmento e os infalíveis operadores de negócios que atuam fortemente para exercer sua lucrativa influência no ramo. Neste território, todo tipo de informação e contrainformação é criado e expandido para valorizar a negociação operada nos subterrâneos, onde se promove ou se rebaixa candidaturas, na tentativa de induzir ou confundir a opinião pública.
Um dos meios mais usados, positiva ou negativamente, para interferir numa disputa é a pesquisa sobre intenção de voto. Em Mato Grosso do Sul, esta sondagem serve às duas vertentes. Partidos, candidatos e estrategistas precisam dissecar o conteúdo das amostragens, checar nos detalhes todo o seu processamento da origem à tabulação, conferir as responsabilidades da empresa e a qualificação técnica.
Sem esses cuidados, é praticamente impossível ter na pesquisa um indicador probabilístico seguro e confiável, que não crie tantas dúvidas e questionamentos, como aconteceu neste início de semana com a divulgação de um levantamento do Ranking Brasil Inteligência. Um dos institutos que mais colecionou grandes erros nas últimas eleições, a exemplo de Campo Grande e vários outros municípios, trouxe dados sobre intenções de voto para o Senado que foram alvo de duras contestações, inclusive por quem, teoricamente, aparece bem nos gráficos.
CENÁRIOS
O que se questiona não é a idoneidade da empresa, mas os dados que foram divulgados. Com 3.000 pessoas entrevistadas em 30 municípios, a consulta trouxe cenários que não constam das rotinas comportamentais do eleitorado local e diferem das características que identificam a dinâmica da política e dos eleitores do Estado. Uma das causas do questionamento é o cenário das posições atribuídas ao deputado estadual Gerson Claro (PP), presidente da Assembleia Legislativa (Alems), e ao deputado federal Vander Loubet (PT).
Num olhar isento e sem desmerecimento algum, pois ambos possuem extensa folha de serviços à sociedade, é preciso considerar os contextos que os colocam nesta linha de competição, submetida às intenções eleitorais do momento. São lideranças cujo prestígio alcança os 79 municípios. Todavia, existem diferenças pontuais que, inevitavelmente, acabam influenciando nas avaliações do eleitor.
PASSOS DECISIVOS
Gerson era um ativo e quase anônimo servidor administrativo da Associação dos Municípios (Assomasul). Neste ambiente, deu os passos decisivos para ingressar na política, convivendo com prefeitos e lideranças municipalistas, percorrendo o interior e preenchendo a bagagem de conhecimentos, aprimorados pelos estudos adquiridos no Magistério e na advocacia.
DEMORA
O batismo definitivo da vida pública veio na eleição para deputado estadual, em 2014. Em 2018, se reelegeu; em 2020, tornou-se presidente da Alems pela primeira vez e, em 2024, na segunda. Neste curso, governou o Estado interinamente durante as férias do governador e do vice. Firmou-se entre as principais lideranças sul-mato-grossenses. Porém, demorou muito – quase 10 anos -, limitando o trânsito de seu prestígio ao estreito corredor do varejo da representação estadual, só ingressando no circuito de opções de candidaturas majoritárias há cerca de um ano e meio.
Esta é uma das diferenças em relação ao histórico de Vander Loubet, ignorado pelos eleitores que opinaram na pesquisa, segundo os índices do Ranking Brasil. Antes de vencer seis eleições seguidas para deputado, o petista já era, em 1999, o homem-forte do primeiro governo de Zeca do PT, primeiro na chefia da Casa Civil e depois secretário de Infraestrutura. E, em quatro anos, já era um dos nomes de maior presença política e eleitoral nos municípios guaicurus, uma realidade comprovada em 2002: no primeiro teste com as urnas, foi o candidato mais votado para deputado federal.
A cena se repetiu nas reeleições seguintes, sempre nas primeiras posições, mesmo com o PT já fora do governo. Para completar, é o mais produtivo parlamentar na conquista de recursos federais para Mato Grosso do Sul. Gerson Claro igualmente se impõe no âmbito caseiro de emendas, mas seu raio de ação é sacrificado pelos limites do orçamento estadual e os recursos disponíveis só permitem atender uma quantidade bem reduzida de municípios.
Neste panorama, os eleitores que a pesquisa Ranking Brasil ouviu deram a Vander apenas 2,2% das intenções de voto, muito abaixo de nomes como os de Soraya Thronicke (3%), que perdeu capital político depois da última eleição, e Nelsinho Trad (6,3%). Mesmo reconhecendo os méritos de lideranças que estão na ponta desta consulta, como os do ex-governador Reinaldo Azambuja (PSDB), Trad e Gerson, não há como não estranhar a pontuação irrisória atribuída a Loubet, que em quase todas as pesquisas para cargos federais sempre aparecem nos primeiros lugares.