Diego Cardoso Roberto, de 32 anos, que trabalha como motorista de aplicativo em Campo Grande (MS) denuncia que foi agredido após uma prisão de investigadores da Delegacia Especializada de Repressão a Roubos e Furtos (Derf). A reportagem é do Primeira Página.
O trabalhador contou que a polícia o “confundiu com um ladrão” suspeito de integrar quadrilha que invadia e furtava condomínios de luxo, na Capital sum-mato-grossense.
A situação aconteceu, segundo o site, devido a Diego estar andando com carro semelhante ao usado pelos criminosos.
“Ele foi levado à Derf confundido com esses rapazes, porque tem um gol prata da mesma cor. Só que ele trabalha de dia com o carro e entregador à noite. A polícia torturou ele das 7h às 10h, pedindo para ele entregar os outros. Ele não participou de nada, meu primo não tem passagem pela polícia”, declarou ao Primeira Página o primo de Diego, o empresário Júnior Cardoso.
Ainda segundo o empresário, na data do roubo, —17 de abril — Diego estava com a família. Já conforme boletim de ocorrência registrado pelo motorista, o caso só foi esclarecido horas depois, quando um dos delegados da unidade de segurança chegou.
“Meu primo foi torturado por horas. Ele desmaiou três vezes, está cheio de hematomas, está todo ferrado e não consegue nem trabalhar”, afirma Júnior.
Em denúncia enviada ao Ministério Público, Diego ainda descreveu os tipos de agressões sofridas. “Fui agredido tanto verbalmente, quanto fisicamente. Tapa na cara, bicuda, chutes nas costas e enforcamento”, declarou.
O motorista de aplicativo ainda afirmou ter sido agredido na sola do pé com pedaço de mangueira e ter sido sufocado com um saco “até que desmaiasse”.
Para confrontar as acusações, Diego diz ter permitido que acessassem seu celular e também registros que comprovavam por onde ele havia andado, no dia anterior. “Disseram que minha prisão foi um equívoco e que deveria entender a situação, sendo que logo fui liberado”, afirmou em documento enviado ao MP.
Como resultado das agressões, Diego apresenta diversos hematomas pelo corpo, principalmente nos pés, mãos, boca e joelhos.
Para o advogado responsável pela defesa do motorista, a prisão e as agressões são “tortura pura”.
O QUE DIZ A POLÍCIA?
Ao Primeira Página, o delegado Fábio Brandalise, responsável pela prisão dos integrantes suspeitos de participar de roubos em condomínios, confirmou que houve um equívoco na prisão de Diego.
“Aparentemente, ele não tem nada a ver com o crime investigado. Foi uma infeliz coincidência, ele tem um carro bastante semelhante ao utilizado pelos criminosos”, declarou.
Brandalise ainda alegou que o motorista de aplicativo demonstrou comportamento alterado após a prisão. “Ele reclamou da abordagem, que apontaram arma para ele, que nunca tinha passado por isso, mas expliquei que a abordagem, de um grupo criminoso, que inclusive tinha subtraído armas de fogo, seguiu o padrão indicado pela doutrina”, sustentou o delegado.
Em boletim de ocorrência registrado pela equipe de investigadores que prendeu Diego, o comportamento do ‘preso’ também foi descrito. “O mesmo apresentou nervosismo e entrou em contradições. Ao chegar na delegacia, Diego se mostrou nervoso e passou a ofender estes policiais com palavras de baixo calão”, afirmou, como sempre, a polícia.
Os policiais também alegam ter sido necessário uso de algemas e que o conduzido “se debatia constantemente”.
CORREGEDORIA
Ao Primeira Página, o delegado-geral de Polícia Civil, Roberto Gurgel Filho, confirmou que a denúncia já chegou à corregedoria.
“A corregedoria tomou pé da situação e agora será apurado. O caso é extremamente grave, envolve apuração de crimes em condomínios de luxo, com informações de que eles [os criminosos] teriam furtado armas de fogo, então, tem todo um contexto a ser apurado”, disse.