Uma das grandes novidades do processo eleitoral de 2022, o nascimento do União Brasil teve um “efeito rebote” em Mato Grosso do Sul: na esteira do surgimento do “novo” partido, o Progressistas — nome adotado há alguns anos pelo já conhecido PP — ganhou impulso e viu sua fatia na representação política crescer até de forma inesperada.

O partido, um dos principais expoentes do “Centrão” no Congresso, onde tem a terceira maior bancada (com 52 parlamentares, justamente à frente do União Brasil, com 49), terminou a atual janela partidária em Mato Grosso do Sul com a maior bancada da Assembleia Legislativa.

Os deputados estaduais Gerson Claro e ganharam a companhia de Marçal Filho, Londres Machado e Barbosinha. Mais: também viram a representação no Congresso sair de nenhum deputado federal para 2, saídos justamente do União Brasil: Luiz Ovando, ex-PSL, e a ex-ministra e agora deputada federal , ex-DEM.

Progressistas cresceu aproveitando debandada

A expectativa era de que a fusão entre DEM e PSL gerasse a maior bancada do Congresso Nacional, colocando o União Brasil como a maior legenda do país, valendo-se também da janela partidária — período no qual políticos que ocupam cargos em disputa na próxima eleição podem trocar de agremiação sem o risco de perder os mandatos.

Contudo, a mesma legislação que permite a fusão entre partidos também garante aos integrantes das legendas fundadoras um período de debandada, caso discordem do novo projeto.

Justamente essa justificativa fez o União Brasil perder não só parlamentares federais e estaduais, mas também vereadores — estes fora da janela partidária de 2022 —, prefeitos e vices.

“Houve a fusão entre DEM e PSL e aqueles insatisfeitos com ela, por não concordarem, deixaram o partido. Não é caso de infidelidade”, disse o advogado Valeriano Fontoura, responsável por ações de desfiliação do União Brasil para egressos no PP.

Ele não soube precisar o número exato de vereadores, vices e prefeitos que chegaram ao Progressistas, uma vez que espera a finalização dos trâmites, pelo (Tribunal Regional Eleitoral de Mato Grosso do Sul) para que situações como dupla filiação sejam excluídas.

Tesoureiro conta 97 vereadores

Luiz Ovando, Tereza Cristina e Jair Bolsonaro
Ovando e Tereza, nova bancada do Progressistas de MS em Brasília, com Bolsonaro. (Foto: Divulgação)

Já o novo tesoureiro do Progressistas, Marco Aurélio Santullo, tem decorado o resultado parcial das novas filiações ao partido. “Dezessete prefeitos, 10 vice-prefeitos, 5 deputados estaduais, 2 deputados federais e 97 vereadores”, disse.

Em 2016, o PP não tinha prefeitos no Estado. Em 2020, havia conquistado 3 prefeituras. “E vem mais por aí”, garantiu. Juntas, as Câmaras Municipais no Estado têm pouco mais de 800 vereadores — assim, mais de 10% fariam parte do partido.

Há várias justificativas para o crescimento do PP. Entre eles, o alinhamento com o presidente Jair Bolsonaro (PL), que já foi filiado ao partido e deve ter o Progressistas em seu palanque na busca pela reeleição — e que lidera as intenções de voto no Estado. Tereza Cristina, que foi sua ministra da Agricultura, foi cotada como possível vice na chapa para “coroar” o casamento.

Contudo, Tereza optou pela pré-candidatura ao Senado, sendo cortejada pelo PSDB para uma aliança eleitoral. A chegada ao PP também lhe rendeu a presidência estadual do partido, tendo Santullo — aliado de longa data e que presidiu a Anater (Agência Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural) — em posição de destaque no diretório.

Santullo, por seu turno, credita o resultado da janela partidária e das desfiliações no União Brasil ao trabalho de base da própria Tereza. “Política não se faz do dia para a noite”, sentenciou, usando uma velha máxima. “É prestação de serviço contínua, que fazemos desde 2018 e que expandimos em 2020. E que chega a 2022”.

Cautela sobre federação

Sobre a aproximação com o PSDB, posta em dúvida diante da possibilidade de uma grande federação partidária em torno de uma terceira via presidencial — que reúne o MDB da presidenciável Simone Tebet, o tucano Eduardo Leite e o próprio União Brasil —, o tesoureiro progressista é cauteloso.

“Temos de esperar, ainda temos muita conversa. Nosso foco é eleger a senadora, construir boas bancadas e ganhar mais espaço político”, sintetizou Santullo, que também foi assessor especial no Governo de Reinaldo Azambuja (PSDB) em Mato Grosso do Sul, cargo do qual saiu com a aproximação do processo eleitoral. A leitura, porém, segue o trabalho de médio prazo por ele listado a partir de 2018. A intenção é criar uma sólida base municipal e crescer no número de prefeituras, agora pelo voto, em 2024.